Tecnicamente, os tupinambás, primeiros povos indígenas com quem os portugueses mantiveram contato, encontravam-se na “Idade da Pedra”. De acordo com a carta atribuída a Américo Vespúcio, os Tupis não tinham uma organização econômica, porque era comum não ter bens de propriedade e não havia entre eles comerciantes ou comércio.
Desconheciam a autoridade política porque viviam sem um governante ou imperador e não tinham generais, porque guerreavam entre si sem motivos plausíveis. Em resumo: não havia propriedade privada, nem reis, senhores ou generais; os Tupis viviam numa sociedade sem classes.
No entanto, existiam chefes nas aldeias Tupis. Eles eram escolhidos entre os mais valentes para liderá-los nas guerras. Deles, exigia-se ainda uma outra qualidade: saber falar bem, para resolver conflitos entre os membros. Cumprindo bem esses papéis, os chefes ganhavam prestígio, mas permaneciam sem poder: por exemplo, por mais prestígio que tivessem, eles não tinham poderes para iniciar uma guerra indesejada pela aldeia. O seu poder sobre o grupo era nulo.
Para os europeus esse modelo era incompreensível. Américo Vespúcio afirma não ter conseguido descobrir os motivos dos conflitos entre eles, pois não tinham bens próprios, Senhorios de Impérios ou Reinos. De acordo com Vespúcio, os Tupis guerreavam para “vingar a morte dos pais antepassados”.
Os europeus compreendiam perfeitamente as guerras motivadas pela ambição de riqueza (“cobiça de propriedades”) ou pelo poder (“avidez de reinar”). Como os Tupis não guerreavam por nenhum desses motivos, a razão pela qual se matavam em guerras intermináveis era uma incógnita para os portugueses. Estamos habituados a pensar que a guerra só ocorre quando a tentativa de resolver os conflitos pacificamente fracassa. Por isso, a nossa sociedade acaba muitas vezes recorrendo às guerras e conflitos.
Para os indígenas, coragem e bravura eram as qualidades de um bom guerreiro. Ser corajoso significava não temer a morte. Sendo a coragem e a valentia os valores mais elevados, a submissão também era incompatível com a imagem do guerreiro. Era preciso que sempre houvesse combates, a fim de que os os mesmos fossem enaltecidos pela bravura e glorificados por seus feitos.
Os indígenas tomavam banhos diários e isso era considerado muito diferente do que era praticado na Europa, pois lá graças ao clima eles evitavam o banho.
Entre os Tupis, havia também regras para o tratamento dos prisioneiros de guerra. Os mesmos não eram torturados, maltratados, humilhados ou encarcerados. Um inimigo aprisionado ou trazido à aldeia vivia como qualquer outro membro, ou seja, livremente. Apesar disso, não fugia. A tribo tinha que dar ao prisioneiro algumas regalias: uma esposa, que o acompanhava por toda a parte, alimentação e tratamento igualitário.
Depois de algum tempo, sem data fixa, executava-se o prisioneiro. A execução era precedida por uma grande festa, para a qual a aldeia convidava os vizinhos aliados. Mesmo sabendo que seria sacrificado, o prisioneiro participava da festa com a mesma alegria dos índios convidados. Chegada a hora, era amarrado pela cintura com uma corda especial chamada “muçuarana”, cujas pontas eram seguradas por dois ou três guerreiros. Porém, antes de receber o golpe mortal na cabeça, o executor incentivava-o a demonstrar sua valentia para que no futuro, ninguém dissesse que matara um covarde.
Faziam com que o prisioneiro aceitasse o destino final, dizendo que era próprio do guerreiro morrer dessa maneira e não como mulheres, nas redes. O prisioneiro dizia que não temia a morte, porque ele próprio matara muitos guerreiros daquela aldeia e dizia que seria vingado pelos seus. Depois dessa demonstração de coragem ele era morto. O seu corpo era retalhado e preparado para ser consumido por todos os presentes.
Nesse ritual antropofágico que horrorizou os portugueses, o que importava era a demonstração de coragem do guerreiro sacrificado. Este não se intimidava diante da morte iminente. Ficava claro que o homem era morto por ser guerreiro e não um prisioneiro. A execução servia para demonstrar que o bravo não teme a morte, pois o corpo é perecível, mas a coragem não.
Alimentação: Os alimentos que os índios brasileiros consumiam nessa época era o milho, a carne de caça, o peixe, frutas e tubérculos. Os portugueses não conseguiam plantar aqui alimentos conhecidos por eles como o arroz e as especiarias. Portanto, tinham que se alimentar com o milho, a mandioca, o amendoim, a batata-doce e a pimenta.
Pela disposição geográfica dos grupos indígenas, era natural que os portugueses mantivessem contatos mais estreitos com os Tupis, que habitavam o litoral. Os grupos indígenas que não pertenciam a essa categoria eram incluídos pelos portugueses no conjunto denominado Tapuia.
Sabemos, hoje, no entanto, que existia uma diversidade extraordinária de grupos indígenas, divididos em dezenas de famílias linguísticas. De acordo com os especialistas, essas dezenas de famílias podem ser agrupadas, em sua maioria, em quatro grandes troncos linguísticos: Tupi, Macro-Jê, Karib e Arwak.